Leonardo Angelo é fotógrafo e designer de moda, nascido em Fortaleza. Nessa conversa, a gente fala sobre fotografia e como ele aborda os ensaios que faz.

Diego Lucena: Como começou a tua carreira como fotógrafo?
Leonardo Angelo: Rapaz, essa história é até um tanto engraçada. Eu fiz, de 2012 pra 2013, um intercâmbio em Lisboa e não tinha uma câmera pra registrar nada, só a do celular. Na verdade eu não tava nem ligando muito pra isso, até que uma das minhas colegas de apartamento veio dizer que tava a fim de comprar uma câmera e queria ajuda pra escolher. No fim das contas, fui atrás de uma câmera pra ela e acabei comprando uma pra mim também. Quando a câmera chegou, eu achava que já ia sair tirando umas fotos animais, mas vi que não era bem assim. Aquele monte de botão, um monte de parâmetro pra mexer. Eu clicava e o quadro saía todo branco ou todo preto. Fiquei meio frustrado e deixei a câmera de lado por umas semanas, até criar vergonha na cara e dar um jeito de aprender a mexer direito naquilo. Fui brincando, experimentando, tentando entender como o negócio funcionava e, quando percebi, já tava tirando umas fotos legais e o pessoal tava parecendo gostar do que eu fazia. Daí até hoje estou do mesmo jeito. Você não para de aprender, todo click é uma lição.
DL: O que te fez optar pela fotografia de moda e boudoir?
LA: Quando comecei a encarar a fotografia como profissão, experimentei um monte de coisa diferente. Os fotógrafos que eu conhecia pessoalmente, na época, ganhavam dinheiro tirando foto de evento. Aniversário, casamento, batizado, esse tipo de coisa. Então fui atrás de fazer algo assim. Fiz muita foto desse tipo, mas, sinceramente, acho um saco. Admiro muito quem faz umas fotos legais de evento, mas não é pra mim. Não sei se é porque tou ficando velho e não tenho mais paciência pra fingir simpatia num ambiente em que não conheço ninguém ou porque sempre tem uma pessoa que acha que é o dono do fotógrafo e fica te perturbando e te alugando, mas não faço mais. Tentei, também, fazer ensaios de casais, de gestantes, de crianças, mas acho muito cafona e o cliente sempre dá muito pitaco no seu trabalho, pedindo pra que fique igual a foto de fulano ou sicrano. Pensando bem, acho que meu erro foi ir atrás de fazer algo só pelo retorno financeiro que aquilo ia me dar. Quando eu parei de tentar ganhar dinheiro e fui atrás de experimentar fazer fotos de coisas que eu gostava, em um ambiente em que eu me sentia mais confortável, o trabalho começou a fluir melhor. E quando você tá confortável e feliz, isso acaba aparecendo no resultado final.
DL: Quais tuas principais referências (pessoas) dentro da fotografia? E dentro da fotografia de moda?
LA: Sou fã do Cartier-Bresson e do Sebastião Salgado. Na fotografia de moda, gosto muito do LaChapelle e do Steven Meisel.
DL: E fora da fotografia, o que te inspira como artista?
LA: Eu acho que tudo pode virar arte. Tudo é inspiração. Algo que te toque ali, naquele momento, pode transformar teu trabalho e levar pra uma direção oposta à que você tava pensando, quando começou.
LA: Um editorial de moda é a parte final de um trabalho muito maior, que é o desenvolvimento de uma coleção de moda. Então envolve muita pesquisa, muita referência visual, um conhecimento sobre o que aquela coleção representa. Além disso, tem o trabalho de muita gente por trás. Uma equipe inteira de produção. Cenário, maquiagem, estilo, casting. É bem complexo e precisa de muita gente pra dar certo. Um ensaio boudoir pode ter uma produção grande por trás, mas o clima é diferente. Diferente da foto de moda, a modelo não tá ali representando algo. Ela tá se mostrando do jeito que é. É um negócio muito íntimo e que aproxima demais o fotógrafo e a modelo. E essa aproximação é necessária, pra que as fotos passem um pouco da personalidade de quem tá sendo fotografado.
LA: Essa frase aí já diz tudo. Acho que o melhor aspecto do meu equipamento é a intimidade que eu tenho com ele. Já se tornou extensão do meu corpo. Tudo que é ajuste que eu preciso fazer na hora da foto, já faço sem tirar o olho do viewfinder, às vezes sem nem sentir.
DL: Já passou por algum perrengue enquanto estava fotografando?
LA: Diversos. Teve parente bêbado em festa de aniversário me alugando e pedindo pra tirar foto com deus e o mundo, uns pivetes chatos gritando no meu pé do ouvido e puxando minhas calças, querendo mexer na minha câmera, eu ir fotografar evento à noite com as pilhas do flash descarregadas. Já rolou também de eu estar fazendo um editorial na serra e começar a chover muito forte e ficarem 3 pessoas me protegendo da chuva enquanto eu tirava a foto, isso tudo enquanto o nivel do rio tava subindo. São boas histórias pra contar.
DL: Qual tipo de fotografia você menos curte?
LA: Uma boa fotografia é sempre legal de se ver, mas acho que foto de casamento é o tipo menos empolgante pra mim.
DL: Qual teu conselho pra alguém que tem interesse em aprender fotografia?
LA: Pense antes de clicar.
DL: Sendo formado em design de moda, como você analisa o mercado para fotógrafos de moda em Fortaleza?
LA: Mesmo com a massificação da fotografia digital, tem uma galera aqui que tá se destacando pela criatividade e talento. Tá rolando uma onda de empresas independentes de produção de moda que tão fazendo um trabalho muito massa, bem arrojado e atual. Creio que daqui vão sair novos ícones da fotografia de moda do Brasil. Então, a competição tá acirrada, mas acho que tem espaço pra todo mundo. Quando seu trabalho é bom, sempre tem quem queira.
DL: Deixa aí uma mensagem final pros amantes da fotografia.
LA: Pra quem tá começando, o que eu tenho pra dizer é: persevere. Todo mundo começa de baixo e vai subindo. Leia muito, exercite o olho. Tire pelo menos uma foto por dia. Pra quem já tá no mercado, o que eu tenho pra dizer é: sai de cima dos meus clientes. (risos) Brincadeira!
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